No dia 2 de Agosto de 1998, tive um acidente de mota que me deixou tetraplégico. Na altura do acidente, estava de férias de Verão, no Algarve.
Era madrugada quando resolvi sair da discoteca e estava cansado devido ao ritmo acelerado das férias de Verão. Tinha 16 anos, deitava-me todos os dias muito tarde, passava as manhãs na praia e ao final da tarde ia jogar futebol com os meus amigos. A noite era obviamente o culminar de um belo dia de verão.
Porque para além do cansaço inerente ao ritmo das férias, bebi álcool e isso contribuiu para aumentar o meu estado de cansaço e distracção.
Depois do acidente, seguiu-se um período em que fui permanentemente sujeito a exames médicos, hospitais e intervenções cirúrgicas.
Foi-me diagnosticada uma lesão medular a nível C-3, C-4, o que significava que doravante eu ficaria tetraplégico. O primeiro confronto com a realidade foi muito duro.
A minha família viveu comigo todos aqueles momentos, de sofrimento, de pânico e angústia. Foi e é a minha família que me fortalece até hoje, bem como os meus amigos.
Felizmente, possuía os apoios quer a nível afectivo, quer económico, que me permitiam enfrentar esta nova fase da minha vida com algum conforto e segurança.
Com o decorrer do tempo interrogava-me como é que era possível um jovem de 16 anos que praticava jet ski quase todos os fins-de-semana, jogava rugby, futebol e fazia equitação todos dias, ficar dependente de outros para quase todas as acções do dia-a-dia. Como conseguiria aceitar a condição de tetraplégico?
À medida que constatava a realidade da minha situação de dependência física absoluta, também me começava a questionar: o que fazer agora da minha vida? Qual o meu futuro daqui por diante? O que poderei fazer face a esta situação?
As respostas foram surgindo aos poucos.
Ordenei a minha vida por prioridades:
E foi assim, que fui conseguindo encontrar o equilíbrio necessário para continuar a minha caminhada ascendente.
À medida que me ia reencontrando, fui descobrindo que tinha possibilidade de fazer algo que me fizesse sentir mais útil e realizado e simultaneamente ajudar os outros.
Desde que me desloco numa cadeira de rodas que me deparo com muitas atitudes preconceituosas que, muito honestamente, me surpreendem e entristecem, pois muitas pessoas não conseguem perceber que as pessoas com deficiência não são "coitadinhas" e podem ser felizes e realizadas.
A falta de acessibilidades físicas é outra questão que urge mudar para que as pessoas com mobilidade reduzida não sejam impedidas de frequentar os mesmos locais que qualquer outro cidadão.
O retrato que alguns estudos têm traçado sobre as pessoas com deficiência - motora, auditiva, visual ou mental, outra - apontam para a existência de desigualdades sociais a vários níveis: níveis de escolaridade muito baixos, taxas de desemprego duas a três vezes superiores à da restante população, e maiores despesas de saúde (farmácia, fisioterapia, etc.), o que torna a situação socio-económica dos agregados familiares das pessoas com deficiência complicada, ao ponto de, por vezes, poder estar comprometida a dignidade das pessoas.
Criei a Associação Salvador, com a missão de promover a integração das pessoas com deficiência motora na sociedade e melhorar a sua qualidade de vida.
Os últimos três anos foram de extrema importância para a Associação Salvador, tendo-nos afirmado como uma instituição de referência em Portugal. Os próximos tempos serão também decisivos para a consolidação das nossas acções e desenvolvimento de novos projectos.
É com sentido de compromisso e com enorme prazer que assumo um papel interveniente na defesa dos direitos das pessoas com deficiência motora.
Convido-o a conhecer os projectos realizados pela Associação Salvador clicando aqui.
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